Ônibus foi incendiado durante protesto no Recife na manhã desta sexta (Foto: Iraquitan Fernando/TV Globo)O Sindicato dos Rodoviários convocou para a tarde desta sexta-feira (22) uma assembleia para definir os rumos da paralisação de motoristas e cobradores de ônibus, iniciada às 4h da madrugada. A paralisação começou depois que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) suspendeu o aumento de salário para rodoviários - a decisão foi anunciada na quarta (20). O local da reunião não foi divulgado pelo sindicato.
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A manhã desta sexta foi de muito tumulto e de dificuldade para passageiros que precisavam pegar ônibus. Alguns relataram espera de mais de duas horas em paradas. De acordo com o Grande Recife Consórcio de Transporte, dos 18 terminais integrados do Grande Recife, apenas o de Xambá, em Olinda, continua fechado por conta dos protestos. Nos outros, o movimento de coletivos é fraco - apenas 35% da frota saiu das garagens e, destes, parte ficou parada nas ruas. Por dia, são atendidos pelo sistema uma média de 2 milhões de passageiros.
Um ônibus foi incendiado durante um protesto, no Terminal Integrado da Macaxeira, no Recife. Um carro do Corpo de Bombeiros esteve no local apagando as chamas e liberando a circulação dos veículos na BR-101. As paradas da cidade continuam cheias e poucos ônibus estão circulando. Mais de dez ônibus ficaram parados na rodovia PE-15, em Olinda, na altura do Viaduto dos Bultrins. Parte dos coletivos teve os pneus esvaziados com pregos. Um ônibus estava com o parabrisa quebrado. Segundo os motoristas no local, passageiros teriam atirado pedras. O trânsito ficou complicado na rodovia e imediações.
Aulas
A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) suspendeu o expediente desta sexta-feira a partir das 13h, devido à paralisação. A instituição informou que, caso o movimento continue no sábado (23), as aulas também vão ser suspensas.
Na última quinta (21), o reajuste de 10% concedido em 30 de julho pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT6) aos motoristas, cobradores e fiscais de ônibus do Grande Recife foi provisoriamente suspenso pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Barros Levenhagen.
Os motoristas informavam incialmente que a paralisação seria de 4h às 10h. Os registros de tumulto e protestos continuam em todo o Grande Recife. O Sindicato dos Rodoviários informou que não houve assembleia para decidir pela greve e não tinha informações sobre a paralisação.
Mais confusão
No começo da manhã, o trânsito foi interrompido na BR-101 no sentido Recife - Paulista, na altura do quilômetro 60, devido ao protesto de rodoviários no terminal da Macaxeira. O protesto foi encerrado por volta das 9h, mas ainda há retenção na BR-101 de Igarrasasu para o Recife, gerando congestionamento a partir de Abreu e Lima.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os rodoviários estacionaram diversos coletivos na altura do quilômetro 82 da BR-101, no sentido Cabo de Santo Agostinho, liberando apenas uma faixa para escoamento do fluxo e causando retenções no trânsito.
Passageiros andam por viaduto na PE-15 (Foto: Kety Marinho/TV Globo)
Em
Olinda, logo pela manhã, havia ônibus no Terminal Integrado do Xambá, mas eles não entravam nem saiam do local. Um portão chegou a ser derrubado no começo da manhã para garantir a não-circulação dos coletivos e houve protesto, com fogo sendo ateado a pneus para impedir a passagem na rua. Passageiros revoltados fecharam por alguns minutos a Avenida Presidente Kennedy, que foi liberada por volta das 7h20. Por dia, passam cerca de 50 mil passageiros pelo terminal.
No bairro do Derby, região central do Recife, onde a população geralmente consegue logo ônibus, a situação não estava muito diferente.Na frente da empresa de ônibus Caxangá, a equipe do Bom Dia Pernambuco flagrou motoristas e cobradores parados, sem entrar na empresa. Alguns saíram em um ônibus como forma de protesto.
Decisão do dissídio
A decisão monocrática sobre o dissídio coletivo dos trabalhadores aconteceu na quarta-feira (20) e acata o recurso ordinário do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Pernambuco (Urbana-PE). A medida fica valendo até o julgamento do processo pela Seção de Dissídios Coletivos do TST, ainda sem data marcada.
Em sua decisão, o ministro do TST entende que o reajuste concedido foi fora dos limites do poder normativo da Justiça do Trabalho. Dessa forma, ficam suspensos o reajuste salarial e do piso da categoria de 10% e mantido o de 6%. Com isso, o salário de motorista passa a ser de R$ 1.700,30; o de fiscal, R$ 1.100,17; e o de cobrador, R$ 782,28. Com a decisão conseguida no TRT no dia 30 de julho, após uma greve de três dias, os salários dos trabalhadores seriam de R$ 1.765,5, R$ 1.140,70, e R$ 811,80, respectivamente.
A suspensão também afeta o auxílio-funeral, diária para viagens e o tíquete-alimentação dos trabalhadores, que havia sido corrigido em 75%, atingindo o valor de R$ 300. Com o reajuste de 6%, o tíquete fica em R$ 181,26. Na ocasião do julgamento do TRT, os desembargadores entenderam que o valor não permite uma alimentação adequada no Grande Recife.
A advogada do Sindicato dos Rodoviários, Maria Rita Albuquerque, afirmou que a medida já era esperada pela categoria, devido ao recurso impetrado pela Urbana-PE. “Ainda não tivemos conhecimento da publicação, mas estamos empenhados na resposta do recurso. A partir de agora, vai correr um prazo e vamos atrás disso”, comentou.
Portão foi derrubado no Terminal Integrado de Xambá (Foto: Kety Marinho / TV Globo)Os trabalhadores ainda não haviam recebido nenhum salário com aumento. Quando houve a decisão do TRT, a folha do mês já havia sido concluída. “No dia 20 de agosto, os trabalhadores recebem um adiantamento do salário, que é pago no dia 5. Nesse primeiro pagamento, os empresários afirmaram que o aumento seria dado no pagamento efetivo do salário, dia 5; isso porque estavam ganhando tempo para a decisão [do TST]”, destacou Maria Rita Albuquerque.
Em nota, a Urbana-PE informou que entrou com recurso "por motivo de absoluta incapacidade financeira e visando salvaguardar a solvência financeira do sistema". O sindicato diz ainda que o sistema é custeado unicamente pela tarifa, "a segunda menor do País e que há mais de 2 anos não é reajustada". A Urbana ainda cita que "outras fontes de recurso devem ser adotadas para manutenção do serviço, para prover melhorias e garantir uma tarifa socialmente justa aos usuários".